quarta-feira, 24 de abril de 2013 0 comentários

Imagina se essa moda pega?

      Ninguém chega em um médico querendo dar palpite no diagnóstico feito por ele da doença ou dos exames e remédios receitados. Aceitamos a premissa de que ele estudou para aquilo e sabe o que está fazendo. O mesmo acontece com várias outras profissões. Mas por que todos querem falar como o professor deve trabalhar? Por que todos se sentem no direito (alguns se acham no dever) de falar o que é certo ou errado um professor fazer? Quer dizer então que os anos de estudo de um professor são menos importantes do que os anos de estudo de um médico ou um engenheiro?
         Pois é, como vocês podem ver estou revoltada!
        Toda semana tem post novo. Semana passada não coloquei nada de novo justamente por causa do trabalho. Era tanta coisa pra fazer que abri mão de algumas atividades pessoais pra conseguir fazer tudo a tempo. Mas não deixei de prestar atenção ao que acontecia ao meu redor.
        Durante toda a semana que passou, acompanhei no jornal da hora do almoço o caso da diretora de uma escola estadual que foi exonerada em Patos de Minas. Não quero julgar se ela estava certa ou errada porque não sei de todos os fatos. Mas uma coisa me chamou a atenção.
     Em um dos jornais, uma professora especialista em educação foi entrevistada a respeito do caso. E a fala dela foi maravilhosa. Acredito que ela disse tudo o que nós professores pensamos, às vezes até falamos, mas ninguém toma nenhuma atitude a respeito. O vídeo abaixo traz um resumo do caso e por último a entrevista. Se você já sabe do caso, basta clicar na barra de tempo em 6 minutos e 30 segundos e ir direto à entrevista.
TV Integração - Pais continuam protestando contra exoneração de diretora em escola de Patos de Minas
      Mas se você não está a fim de ver o vídeo, vou reproduzir aqui a parte da fala da professora que resumiu tudo:

"A semana passada, eu estive numa escola estadual em que os professores estavam fazendo uma vaquinha pra comprar tinta para a impressora. Não porque o estado não dê impressora, mas dá de uma maneira tão engessada que não dá pra tirar as impressões necessárias. Não pode pôr pen drive na impressora, o professor não tem acesso à internet, ao próprio computador pra fazer aquilo que precisa pra ser impresso. Então ele faz em casa, sem remuneração. Por isso que eu digo que é escravidão, ainda tirando o sangue, porque tem que tirar o dinheiro do bolso pra poder fazer alguma coisa. Tem uma escola estadual aqui que tem um programa maravilhoso, um programa de grêmio. Programa bonito, bom. Eu vi o diretor emprestando o telefone dele pro menino poder fazer a ligação que precisaria pro grêmio que é próprio do Mais Educação, que é próprio do ensino integral. Então esse diretor está tirando do seu bolso pra poder ter um programa que o governo institucionalizou e mandou, inclusive uma grade, a grade né, pra aprisionar os professores, de 50 minutos, pra ensinar moral, ética. Como que ele vai ensinar isso em 50 minutos isolados, com um professor que não é o professor de todos os dias?"

        Lembra a história de todos darem palpite na profissão do professor? Pois é, quem está de fora e gosta de falar o que o professor pode ou não fazer não vê esse tipo de situação descrita pela professora da entrevista.
      E o pior não é isso. Agora surgiu a moda do processar. Tudo que o professor fala ou faz pode virar um processo. Conheço uma excelente professora que foi processada e punida porque estava ensinando um aluno a ter higiene pessoal. A mãe entendeu que a professora estava constrangendo seu filho. Constrangendo? Constrangida está a criança, ao ser ridicularizada pelos colegas porque a própria mãe não a ensinou a tomar banho direito.
        Na semana passada uma notícia que me chamou a atenção foi a de um pai que processou a professora porque ela colocou uma prova no Facebook (G1 - Pai registra BO contra professora que postou prova de aluna no Facebook). O pai entendeu que a professora estava ridicularizando a filha. A professora não colocou o nome da menina. Segundo o pai, os colegas viram que a prova era da menina porque reconheceram a letra. Mas então quando os alunos desenham os professores, colocam apelidos, tiram sarro dos professores na internet (o que eu mesma já vi muito), xingam, falam palavrões, mandam você ir tomar "leite", chamam as professoras de vagabundas (escutei essa antes de ontem), podemos processá-los também?

      E aqui vai a última parte da revolta. Li também semana passada uma reportagem (Correio de Uberlândia - Graduação em Licenciatura tem evasão superior a 40% em Uberlândia) falando que de cada 10 alunos que iniciam os cursos de licenciatura, ou seja, que iniciam cursos para se tornarem professores, 4 desistem antes de se formar. E ainda querem saber o por quê?
YOU FAIL!!

quarta-feira, 10 de abril de 2013 2 comentários

Pérolas da sala de aula

      Essa postagem de hoje é dedicada aos meus colegas de profissão, em especial aos professores de Inglês. Mas é também especial para uma certa turma minha de 8º ano.
          Vou me explicar: em uma de minhas turmas de 8º ano, há um aluno que solta verdadeiras pérolas quando abre a boca para fazer perguntas. E ele fala de uma forma que não há como me concentrar e fazer cara de brava. E lógico que cada frase dele é seguida de longas risadas. Um dia comentei com a turma que iria colocar as pérolas dele no meu blog. Desde então, de vez em quando um me pergunta se eu já postei.
        Resolvi colocar não só as pérolas que ele solta em sala de aula, mas também certas perguntas sem noção que qualquer professor escuta, principalmente os de Inglês.

A melhor delas foi a desse certo aluno que comentei acima. Estava fazendo com eles um exercício sobre Present Continuous em que o aluno tinha que descrever o que os elefantinhos estavam fazendo. Ele me chama e pergunta:
- Professora, se he é ele e she é ela, o que eu vou usar pra falar de um elefante gay?

Tentei ignorá-lo (porque vi que era pura brincadeira) e continuar a aula, mas ele me interrompeu novamente e perguntou:
- É sério, professora, uso he ou she? Tenho essa curiosidade...

O mesmo aluno depois que fiz uma brincadeira a respeito dos bate-boca constantes dele com uma colega de sala:
- Professora, a senhora está me bulinando!! (Na verdade, ele queria falar de bullying...)

Sempre que os colegas estão brigando, esse aluno costuma olhar pros colegas com a cara mais lerda do mundo e dizer:
- Não pode brigar com os coleguinhas... (doido pra ver o circo pegar fogo!).

> Agora vão as perguntas que mais escuto:
Depois de você explicar de variadas maneiras como se resolver um exercício, sempre tem um que levanta a mão e fala:
- Mas o que é mesmo pra fazer?

E o pior, sempre tem um pra perguntar:
- É pra responder em Português ou Inglês?

Quando os alunos recebem o livro de Inglês pela primeira vez, eu sempre digo que exercício só se responde com lápis. Mas sempre tem um pra perguntar:
- Professora, pode ser de caneta?

Ou então, na hora da prova:
- Pode responder de caneta vermelha?

> Isso sem falar nas clássicas...
Quando eu entrego folha de exercícios:
- É pra colar a folha?
- Esqueci o caderno, onde colo? (A vontade é de responder: Na testa!! Mas sou educadinha e não falo hehehehe)
- Esqueci a cola, como faço?

Quando eu passo matéria no quadro:
- É pra copiar?

Quando estou trabalhando perguntas pessoais:
- Professora, como é meu nome em Inglês?

Quando estou ensinando os nomes dos objetos escolares:
- Mas notebook não é computador?

> Coisas que eles morrem de rir mas que não têm nenhuma graça...
Quando estou ensinando os números e chego no 14:
- Fortim kkkkkkkkkkkkk 

Quando falo TV em Inglês:
- Tivi kkkkkkkkkkkkk

Quando explico que cool significa legal:
- Cuuu é legal kkkkkkkkkkkk (tá bom, esse eu faço uma gracinha pra eles rirem mesmo :P).


E você? Tem alguma pra acrescentar à lista?
Comente e deixe a sua frase sem noção...


quarta-feira, 3 de abril de 2013 5 comentários

E pra que serve a escola mesmo?

Semana de feriado prolongado é como se fosse aquela semana véspera de férias, quando ninguém quer fazer mais nada só porque a semana vai acabar logo ali, não é? Pois é, pra mim foi assim mesmo semana passada!!
Mas estou de volta com uma pequena reflexão sobre duas notícias que li na semana que passou.
A primeira delas repercutiu nacionalmente e, se você não ouviu falar a respeito, pode ler no site do G1 ou assistir no site da TV Paranaíba. A notícia é sobre uma festa combinada pela internet, que levou mais de 70 adolescentes a matarem aula para curtir música alta e consumir bebida alcoólica e drogas numa quarta-feira às 7h da manhã.
E a má notícia é que esta festa foi realizada numa casa a poucos quarteirões da escola onde trabalho e vários alunos meus estavam lá. É de se preocupar.
Tudo bem que nos dias de hoje ser certinho, fazer todas as tarefas, não matar aula, obedecer os pais é o mesmo que ser careta, nerd ou coisa assim. Mas precisa chegar nesse nível? Fiquei triste ao ver a notícia no jornal enquanto almoçava.
A que ponto as coisas chegaram! Desde sempre existem adolescentes no mundo, e eles são rebeldes e fazem coisas pra chamar a atenção. Isso não muda. A diferença é que antes os adolescentes não tinham a liberdade que têm hoje. Liberdade de comunicação e de compartilhamento de informações. E o pior (ou melhor, não sei) é que antes esses atos de rebeldia se inciavam beeem mais tarde. "Adolescente" de 12 anos (isso mesmo, 12 anos!) ir pra festa beber vodka e fumar maconha?  E com qual o objetivo? Chamar a atenção dos pais? Mostrar que não liga pra escola?
Em uma das entrevistas que eu vi com pessoas envolvidas, havia uma avó dizendo que havia perdido a filha (assassinada por envolvimento com drogas) e que a neta de 13 anos estava na festa. E o pior da entrevista foi ver essa senhora afirmar que iria entregar a neta para o Conselho Tutelar porque se recusava a cuidar da menina nessa situação. Quando eu vi isso me perguntei: em que mundo estamos? Que tipo de família cria essas crianças hoje? Quais os valores passados a essas crianças?
Pelas próprias conversas que tenho com muitos pais de alunos que estão com problemas na escola percebo que hoje em dia os pais estão mais preocupados em morrer de trabalhar pra ganhar dinheiro e poder sustentar a família do que ensinar seus filhos sobre o que é respeito, educação ou simplesmente conversar, brincar ou olhar os cadernos das crianças.
Eu entendo, é difícil. Eu, que não tenho filhos, às vezes chego em casa cansada do trabalho e fico imaginando: e se eu ainda tivesse que cuidar de uma criança? Dar banho, comida, olhar tarefa, conversar, brincar? Não sei se conseguiria.
Mas muitas vezes os pais não pensam nisso antes de colocarem as crianças nesse mundo. Muitas vezes essas crianças são fruto de um acidente, o que vira uma bola de neve: os pais não tem condição de sustentar a criança, trabalham demais pra conseguir esse sustento, a criança fica sozinha o dia todo em casa, faz coisa que não deve (porque os pais não têm tempo de acompanhar), e outro acidente acontece. Nasce outra criança.
E o que eu posso fazer pra resolver isso? Bom, não sei. Isso é um problema social. A obrigação de resolvê-lo é daqueles que eu elegi pra me representarem na minha cidade, no meu estado e no meu país. E não vou me estender no assunto, principalmente sobre cobrar providências dessas pessoas, porque  esse assunto vai loooonge.
Conto agora então sobre a segunda notícia que li semana passada. Quase dois dias depois dessa tal festa, passando o olho pelas manchetes na internet, vi uma que me chamou a atenção. Na verdade, ela nem é recente, mas proporciona uma ótima oportunidade para reflexão, principalmente para esses adolescentes que foram à essa festa só porque não gostam de ir à escola. Será que algum dia algum deles já pensou seriamente sobre o que aconteceria Se não existissem escolas no mundo? A revista Superinteressante pensou.
E a conclusão a que chegaram: poderia ser o fim do mundo bom e cheio de comodidades que temos hoje. Ou a escola acabaria sendo inventada novamente.
Segundo a revista, o mundo poderia acabar em guerras porque as pessoas não teriam o que comer. E as pessoas não teriam o que comer porque a tecnologia utilizada pra produção de comida (ou qualquer outra coisa que usamos hoje) é aprendida na escola. Sem escola, você não teria celular, computador, tablet, carro, nem mesmo um microondas pra esquentar uma pizza quando tivesse fome. Porque não teria ninguém pra ensinar a construir nada disso.
Mas a revista também oferece um outro cenário. As pessoas iriam correr atrás do prejuízo e começariam a ensinar umas às outras o que precisam saber para construir tudo isso. E a escola surgiria novamente.
Seria interessante que esse jovens que dizem não gostar de estudar pensassem a respeito disso. Sem escola, não existiriam coisas que pensamos serem simples, como o celular. E que adolescente vive hoje sem celular? 





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