Ninguém chega em um médico querendo dar palpite no diagnóstico feito por ele da doença ou dos exames e remédios receitados. Aceitamos a premissa de que ele estudou para aquilo e sabe o que está fazendo. O mesmo acontece com várias outras profissões. Mas por que todos querem falar como o professor deve trabalhar? Por que todos se sentem no direito (alguns se acham no dever) de falar o que é certo ou errado um professor fazer? Quer dizer então que os anos de estudo de um professor são menos importantes do que os anos de estudo de um médico ou um engenheiro?
Pois é, como vocês podem ver estou revoltada!
Toda semana tem post novo. Semana passada não coloquei nada de novo justamente por causa do trabalho. Era tanta coisa pra fazer que abri mão de algumas atividades pessoais pra conseguir fazer tudo a tempo. Mas não deixei de prestar atenção ao que acontecia ao meu redor.
Durante toda a semana que passou, acompanhei no jornal da hora do almoço o caso da diretora de uma escola estadual que foi exonerada em Patos de Minas. Não quero julgar se ela estava certa ou errada porque não sei de todos os fatos. Mas uma coisa me chamou a atenção.
Em um dos jornais, uma professora especialista em educação foi entrevistada a respeito do caso. E a fala dela foi maravilhosa. Acredito que ela disse tudo o que nós professores pensamos, às vezes até falamos, mas ninguém toma nenhuma atitude a respeito. O vídeo abaixo traz um resumo do caso e por último a entrevista. Se você já sabe do caso, basta clicar na barra de tempo em 6 minutos e 30 segundos e ir direto à entrevista.
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TV Integração - Pais continuam protestando contra exoneração de diretora em escola de Patos de Minas |
Mas se você não está a fim de ver o vídeo, vou reproduzir aqui a parte da fala da professora que resumiu tudo:
"A semana passada, eu estive numa escola estadual em que os professores estavam fazendo uma vaquinha pra comprar tinta para a impressora. Não porque o estado não dê impressora, mas dá de uma maneira tão engessada que não dá pra tirar as impressões necessárias. Não pode pôr pen drive na impressora, o professor não tem acesso à internet, ao próprio computador pra fazer aquilo que precisa pra ser impresso. Então ele faz em casa, sem remuneração. Por isso que eu digo que é escravidão, ainda tirando o sangue, porque tem que tirar o dinheiro do bolso pra poder fazer alguma coisa. Tem uma escola estadual aqui que tem um programa maravilhoso, um programa de grêmio. Programa bonito, bom. Eu vi o diretor emprestando o telefone dele pro menino poder fazer a ligação que precisaria pro grêmio que é próprio do Mais Educação, que é próprio do ensino integral. Então esse diretor está tirando do seu bolso pra poder ter um programa que o governo institucionalizou e mandou, inclusive uma grade, a grade né, pra aprisionar os professores, de 50 minutos, pra ensinar moral, ética. Como que ele vai ensinar isso em 50 minutos isolados, com um professor que não é o professor de todos os dias?"
Lembra a história de todos darem palpite na profissão do professor? Pois é, quem está de fora e gosta de falar o que o professor pode ou não fazer não vê esse tipo de situação descrita pela professora da entrevista.
E o pior não é isso. Agora surgiu a moda do processar. Tudo que o professor fala ou faz pode virar um processo. Conheço uma excelente professora que foi processada e punida porque estava ensinando um aluno a ter higiene pessoal. A mãe entendeu que a professora estava constrangendo seu filho. Constrangendo? Constrangida está a criança, ao ser ridicularizada pelos colegas porque a própria mãe não a ensinou a tomar banho direito.
Na semana passada uma notícia que me chamou a atenção foi a de um pai que processou a professora porque ela colocou uma prova no Facebook (G1 - Pai registra BO contra professora que postou prova de aluna no Facebook). O pai entendeu que a professora estava ridicularizando a filha. A professora não colocou o nome da menina. Segundo o pai, os colegas viram que a prova era da menina porque reconheceram a letra. Mas então quando os alunos desenham os professores, colocam apelidos, tiram sarro dos professores na internet (o que eu mesma já vi muito), xingam, falam palavrões, mandam você ir tomar "leite", chamam as professoras de vagabundas (escutei essa antes de ontem), podemos processá-los também?
E aqui vai a última parte da revolta. Li também semana passada uma reportagem (Correio de Uberlândia - Graduação em Licenciatura tem evasão superior a 40% em Uberlândia) falando que de cada 10 alunos que iniciam os cursos de licenciatura, ou seja, que iniciam cursos para se tornarem professores, 4 desistem antes de se formar. E ainda querem saber o por quê?
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YOU FAIL!! |